O que é neurofeedback?

Como funciona esta técnica de treinamento cerebral?

A técnica de neurofeedback é um método de treinamento cerebral em que é possível melhorar sintomas e nossa qualidade de vida utilizando tecnologia para direcionar mudanças específicas em nosso cérebro.

Em resumo, um treinador de neurofeedback pode nos ajudar a estimular a neuroplasticidade para desenvolver novos hábitos cerebrais que melhoram nossa saúde mental e performance.

Esta técnica tem suas raízes em pesquisas sobre a possibilidade de condicionar a produção de atividades específicas do cérebro, como a produção de um tipo específico de onda cerebral. As primeiras pesquisas sobre o assunto surgiram na década de 30 do século passado com Durup e Fessard (1935), e Loomis, Harvey, and Hobart (1936).

Uma das primeiras demonstrações de que era possível mudar voluntariamente o padrão de ondas cerebrais foi feita na década de 1960 pelo Dr. Joe Kamiya na Universidade de Chicago que publicou resultados em que voluntários conseguiram aumentar a atividade específica de ondas alfa após treinamento.

A partir daí muito tem sido estudado sobre os fundamentos e aplicações desta técnica, para uma revisão histórica desses achados vale ler um artigo publicado pelo Dr. Leslie Sherlin e colaboradores em 2011 sobre o assunto (referências no final do texto).

Atualmente esta técnica tem algumas abordagens diferentes, mas todas passam por uma primeira avaliação da atividade eletroencefalográfica da pessoa para a identificação do padrão de funcionamento da pessoa que está relacionado ao sintoma ou conjunto de sintomas que a pessoa gostaria de mudar.

É importante entender que o treino é feito personalizado, baseado na atividade da pessoa e não necessariamente num diagnóstico da pessoa. Isto acontece porque duas pessoas diagnosticadas com a mesma condição, seja depressão, transtorno do déficit de atenção ou quadro gerais como estresse crônico e fadiga mental, podem ter assinaturas cerebrais diferentes.

Nesta particularidade a técnica de neurofeedback se faz ainda mais interessante, treinar a atividade específica da pessoa para que ela melhore sua saúde mental e sua performance nas diferentes atividades do dia a dia.

Primeiro então é importante mapear a atividade cerebral, para isso utilizamos um exame de eletroencefalograma quantitativo, usualmente medimos 10 minutos da atividade cerebral de olhos abertos e de olhos fechados.

Figura 1. Exemplo de traçado do exame de eletroencefalografia que usamos na avaliação neurofuncional. Nele estamos registrando 20 canais que equivalem a 20 regiões cerebrais diferentes.

Começamos com a leitura de traçado do exame (Figura 1) em que identificamos elementos no exame que podem se correlacionar com os sintomas e fazemos diferentes cálculos sobre o padrão de atividade cerebral, o perfil de ondas cerebrais que aquele cérebro produz no dia a dia. Podemos fazer diferentes tipos de análises e de imagens funcionais do cérebro com esses dados, isto nos dá uma síntese do funcionamento global da pessoa, por isso chamamos de avaliação neurofuncional.

Figura 2. Exemplo de mapa topográfico da distribuição de diferentes faixas de frequência de ondas cerebrais em um paciente registrado por 10 minutos em um sistema de 20 canais. Cada uma dessas representações indica uma faixa de frequência, Delta, Theta, Alpha, Beta e Gamma.

Após correlacionar os achados do exame com os sintomas é definido um plano de treinamento para aquela pessoa, em que iremos reforçar ou inibir padrões de ondas cerebrais de acordo com os objetivos de treinamento.

Os treinos são feitos em geral duas vezes por semana, para que a seja mais eficiente o condicionamento de novos padrões e hábitos de atividade cerebral. E o treino é feito utilizando diferentes estímulos visuais e /ou auditivos.

Aqui vale também destacar o seguinte, o treino é feito na atividade cerebral e não na mente. Por isso a pessoa durante os treinos fica assistindo filmes, desenhos ou jogando jogos digitais em que utilizamos o funcionamento do cérebro para controlar o volume, a luminosidade e mesmo a resposta dos jogos.

A atividade do seu cérebro é apresentada a você indiretamente, através do som, da luminosidade ou do movimento do jogador por isso é neurofeedback, estamos dando um feedback do funcionamento do seu cérebro através destes estímulos.

Com o uso dessa informação o treinador vai poder auxiliar seu cérebro na criação de novos padrões de atividade e você vai melhorar, reduzindo sintomas negativos e melhorando sua performance no dia a dia.

Além do paciente sentir as mudanças no dia a dia em diversas atividades do cotidiano, também é comum realizarmos novas avaliações da atividade cerebral para identificar as mudanças que estão sendo conseguidas e ajustar qualquer necessidade que o paciente tenha.

Referências

Durup, G., & Fessard, A. (1935). I. L’électrencéphalogramme de l’homme. Observations psycho-physiologiques relatives à l’action des stimuli visuels et auditifs. L’année psychologique, 36(1), 1-32.

Loomis, A. L., Harvey, E. N., & Hobart, G. (1936). Electrical potentials of the human brain. Journal of experimental Psychology, 19(3), 249.

Nowlis, D. P., & Kamiya, J. (1970). The control of electroencephalographic alpha rhythms through auditory feedback and the associated mental activity. Psychophysiology, 6(4), 476-484.

Kamiya, J. (2011). The first communications about operant conditioning of the EEG. Journal of Neurotherapy, 15(1), 65-73.

Sherlin, L. H., Arns, M., Lubar, J., Heinrich, H., Kerson, C., Strehl, U., & Sterman, M. B. (2011). Neurofeedback and basic learning theory: implications for research and practice. Journal of Neurotherapy, 15(4), 292-304.


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